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quinta-feira, junho 01, 2006

Experiência, Voluntarismo e Democracia

por Antonio Prado

Uma das frases mais saborosas de Pedro Nava é a de que a experiência é como um farol de automóvel que ilumina para trás. A experiência é um tema recorrente na luta política brasileira. É dito que os experientes são os que fizeram, certo ou errado. Os ingênuos, voluntaristas, são os que querem fazer o bem, mas não sabem como, já que o saber fazer é um baú que só alguns de fino trato têm a chave. Competência é atributo dos que dominam a linguagem do poder, que expressam em seu corpo, em seus trajes, em sua entonação de voz e olhar blasé, a presença marcante dos sábios das velhas cortes. Distribuem gracejos e comentários espirituosos que criam um ambiente de cumplicidade com os donos do poder, que por sua vez dissimulam a aceitação, pois precisam de defensores de seus interesses.

O competente é aquele que sabe que quem vota é Wall Street, como bem lembrou o magnata George Soros e que interpreta, em tom de oráculo, os desígnios e excentricidades do Mercado. Os outros são apenas almas altruístas que não percebem o desastre que seus atos prenunciam e que, ao tentarem matar a fome dos desafortunados, apenas apressam sua morte. Mas se aos olhos do idoso a experiência é a dura lembrança de que a vida se esvai, mesmo que para alguns poucos, até de forma doce e gentil, para a política ela é a memória insolente dos nossos atos.

A história econômica brasileira dos últimos 20 anos é plena em episódios que nos autorizam examinar as conseqüências dos atos daqueles que têm tanta proficiência no ofício de perpetrar lições e juízos de valor aos gestores atuais da coisa pública federal. O Plano Bresser conduziu a um ajuste recessivo, realizando quebra de contratos trabalhistas que geraram uma onda de greves e ações vitoriosas na Justiça. O Plano Verão foi realizado pela prata da casa do Ministério da Fazenda, nos fins dos anos 80. Hoje é apenas conhecido pelos titulares do FGTS que estão recebendo suas indenizações pela expropriação de seu patrimônio, fato reconhecido pelo STF. A regra de correção foi desrespeitada, o direito ferido e a segurança do assalariado, abalada. Mas o juízo competente dirá que naquele momento essa era a opção mais barata. Talvez, mas a conta foi jogada para as gerações futuras. O Plano Collor, não merece comentários, apenas que nele foi feito tudo que falsamente se atribuía ao adversário, Lula, nas eleições de 1989. Sabemos que muitos ficaram tentados em colaborar com o plano, mas foram segurados em tempo daquela aventura tenebrosa. Essa foi mais uma conta jogada para o alto e para o futuro, aquela advinda dos confiscos coloridos. Assim falou o STF.

O Plano Real foi um corolário da experiência do Cruzado. Idéias que vinham sendo gestadas desde 1983, testadas e, infelizmente, fracassadas em 1986, foram adotadas com aparente sucesso em 1994. O ambiente era favorável, pois a partir desse período, a desinflação planetária saiu de um patamar de 30% para 4%, em dez anos, como registra um estudo do professor Rogoff. Mas o curioso é que o que estabilizou a moeda não foi o Plano Real, mas o Plano Gustavo Franco, que ancorou a moeda no dólar e demoliu a inflação, como, aliás, o México havia feito há oito anos até o final daquele mesmo ano, em que a âncora mexicana desmoronou. Demoliu também, o câmbio gustaviano, a saúde das contas externas brasileiras e grande parte da indústria, além de provocar uma concentração de riqueza urbana e rural sem precedentes. Mas foi um sucesso de mídia esplendoroso, com os pobres comprando iogurte e frango e os ricos, helicópteros, iates, Ferraris e o que as Daslus vendessem.

A farra consumista durou pouco. Já em meados de 1995 a economia entrava em crescimento rastejante e assim ficou, à exceção do ano 2000. Um ponto fora da curva. A economia cresceu 2,3% na média de 8 anos. Enquanto isso, os EUA cresciam tanto que há livros tratando desses anos fabulosos, exuberantes. A oposição ao Governo FHC sempre alertou para a vulnerabilidade externa do país como a fonte principal, mesmo que não exclusiva, da incapacidade de se alçar vôos além do horizonte das galinhas. Não foi ouvida. A fórmula mudou em 1999, por imposição do colapso cambial, mas a herança estava plantada.

Os personagens dessa longa experiência que inverte a fábula das abelhas de Mandeville para virtude privada e prejuízo público estão de volta com suas alquimias. Os senhores da competência e da elegância preparam uma nova aventura. Ensinarão ao país como se faz. Mas não foram esses mesmos que dobraram a dívida pública como proporção do PIB? Que destruíram os saldos comerciais? Que dobraram as taxas de desemprego? Que mantiveram os salários reais em queda por sete anos? Que deixaram a infra-estrutura pública deteriorar? Que levaram as empresas privadas a se endividar em dólares até a insolvência técnica? Que terceirizaram o serviço público? Que desmontaram o Estado brasileiro? Que enxovalharam o princípio da soberania nacional? Que nos levaram a humilhação pelo FMI? Que deixaram os pobres mais pobres? Que quebraram a agricultura empresarial e familiar?

Os pretensamente inexperientes, que receberam o mandato de mais de 50 milhões de brasileiros, erraram? Mas se houve erros, há acertos que devem ser listados. São esses abaixo, para escrutínio público.

1. Vêm reduzindo a dívida pública de forma consistente há três anos;
2. Comemoram os maiores saldos comerciais da história brasileira, isso sem reduzir o mercado interno;
3. Vêm aumentando o emprego formal em níveis espetaculares e revertendo a regressão plantada no mercado de trabalho por Collor de Mello e FHC;
4. As taxas de desemprego estão caindo e os salários reais começaram a subir;
5. Vêm trabalhando para recuperar a malha ferroviária, os portos, os aeroportos, o sistema de produção e distribuição de energia;
6. As empresas privadas recompuseram suas dívidas e pela primeira vez em décadas as empresas do setor produtivo lucram mais que as financeiras;
7. Os concursos públicos estão substituindo o pessoal terceirizado em atividades fim.
8. As carreiras típicas de Estado estão sendo revalorizadas;
9. A política externa brasileira deixou de ser a de punhos de renda e do maneirismo e passou a defender o interesse nacional de forma reconhecida pelo mundo;
10. O país ajudou a criar o G-20, aposta na integração da América Ibérica e não descuida das relações soberanas com EUA e Europa;
11. O país pagou suas dívidas com o FMI;
12. Tem o Programa Bolsa Família atendendo 8,5 milhões de famílias, quase trinta milhões de pessoas;
13. Abriu o crédito para a agricultura familiar e vem socorrendo a agricultura empresarial quando necessário, mas não mais exclusivamente, como era dos usos e costumes;
14. Liberou o maior volume de recursos para investimentos da história através do BNDES;
15. Ampliou o crédito no país em 8 pontos do PIB, após décadas de queda.
Parece que o movimento de se reescrever a história continua. Da máxima esqueçam-o-que-escrevi, está se criando a máxima do esqueçam-no-que-fracassei. Com um pouco de arrogância, modelos matemáticos, linguajar empolado e muita ajuda do grande irmão, talvez até convençam o incauto de que são responsáveis pelo que o Governo Lula fez de bom e totalmente inocentes das contas bilionárias que caíram sobre os cofres públicos de hoje. Esqueletos criados pelas aventuras de sabichões eméritos. “Êta penca de gente sabida, siô”
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Antônio Prado Antonio Prado é economista, professor do Departamento de Economia da PUC-SP (licenciado), foi coordenador da Produção Técnica do Dieese nos anos 90 e é responsável pelo escritório do BNDES em Brasília.
http://www.pt.org.br/

2 Comments:

At 4/7/06 11:13, Anonymous Anônimo said...

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At 21/7/06 04:53, Anonymous Anônimo said...

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