Moralismo seletivo

por Soninha Francine

(...)falando como cidadã-eleitora-contribuinte, é assombroso ver os quatro deputados federais mais votados por São Paulo: 739.827 pessoas escolheram Maluf como seu representante no Congresso; também do seu partido (PP), Celso Russomano recebeu 573.524 votos. Juntos, eles quase alcançam a votação de Christovam Buarque para a presidência (2.538.844), contados os votos do país todo). Se somar os votos do Clodovil (493.951) e do Enéas (386.905), os parlamentares ficam com 2.193.207. Quer dizer, enquanto muita gente fez questão de dizer que não votava em mim porque eu fazia parte de uma “quadrilha”, o PP, que teve treze deputados acusados de envolvimento com a máfia das ambulâncias, entre mil outros problemas, elegeu os dois deputados mais votados do estado. Sem falar em biografia, ou ficha corrida...

Eu tive de responder um milhão de perguntas sobre corrupção. Ler dois milhões de colunas graves ou debochadas, cartas veementes, emails agressivos e ofensivos, reportagens, títulos escandalosos, montagens fotográficas, etc. E claro que teria – não queria que o PT tivesse tolerância de ninguém quando fosse acusado de corrupção. Mas quem é do PP não precisa se preocupar muito com isso, né? Não vi ninguém dizendo “Se não começar com 11, tá bom” (referindo-se ao número dos candidatos). Mas com “13” na frase eu ouvi.

“A ética vencerá a corrupção”, diz um candidato (Geraldo Alckmin, PSDB). O que ele quer dizer com essa frase? Lula vai perder e ele vai ganhar. A corrupção ganhou uma cor, um símbolo, um rosto, como se todos os outros, inclusive os tucanos, estivessem imunes a isso. Talvez eles tenham encontrado uma vacina e não queriam compartilhar com ninguém... A gente tem (e tem MESMO) de discutir a corrupção no PT, mas porque ninguém, fora os petistas (e, eventualmente, o PSOL, embora eles prefiram alvejar o PT), discute a corrupção nos outros partidos?

Posso ficar rouca de tanto falar, com tendinite de tanto escrever, que a leitura será sempre a mesma: quem não é petista dirá que é só uma petista querendo defender o partido e que por isso acusa os demais. Não é; não sou. Não quero defender o partido de nenhuma acusação justa, como a condenação absoluta da Operação Tabajara. Só das injustas, precipitadas, exageradas, distorcidas. E não quero acusar ninguém em bloco -- a não ser de brutal desinteresse, por parte dos partidos, em fazer auto-exame, auto-crítica, auto-questionamento e vigilância.
Faz três dias que não consigo dormir mais de três horas por noite, numa mistura de cansaço, ansiedade e tristeza. Precisava escrever mas não vou ter ânimo para reler agora. Espero que esteja compreensível. O resto – ainda falta tanto – escrevo depois.

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