O oportunismo da grande imprensa
Foram lamentáveis as cenas de violência promovidas pelo Movimento pela Libertação dos Sem Terra (MLST), ontem no Congresso Nacional. Injustificáveis. Mas, mais lamentável ainda foi a forma sórdida, hipócrita e covarde como esse acontecimento foi explorado por parlamentares e pela mídia, principalmente os jornais noturnos da Rede Globo.
Sórdida, porque a grande imprensa e a bancada oposicionista sempre trataram os movimentos sociais como quadrilhas de criminosos, mesmo em ações pacíficas, como se a causa do surgimento dessas organizações populares não fossem legítimas. O que aconteceu ontem foi um prato cheio para aqueles que não suportam a rebeldia dos oprimidos que lutam por seus direitos através da luta política.
Hipócrita, porque o que deveria ser tratado como um excesso grave de um movimento social, foi tratado como “baderna”, “arruaça”, “bandidagem”. A falta de terras para agricultores em um país onde “grileiros”possuem territórios equivalentes às dimensões de uma Holanda, é um ato de violência muito maior e cruel, incomparável ao que aconteceu ontem. Claro que não se justifica, mas isso deve ser colocado na balança para não analisarmos o fato de forma descontextualizada. A grande mídia trata esses assuntos como se estivéssemos na Suíça ou na Dinamarca, como se não houvesse motivos para a população se revoltar.
Covarde, porque explorou o fato de forma partidária ao insinuar que tudo fora planejado pela direção do PT. Havia apenas um integrante do PT na confusão, o que não quer dizer nada. Mesmo porque o ataque foi a um local de trabalho de diversos parlamentares petistas. Também havia muitos filiados ao oposicionista PSOL na manifestação. É totalmente ilógico querer colocar na conta do PT, um ato de um movimento social independente. Que interesse teria o PT com a confusão de ontem? Por que o PT iria arranhar sua imagem às vésperas de uma eleição cujas pesquisas o apontam como favoritíssimo ao pleito? Querer embaralhar a cabeça do telespectador ao fazer das cenas de violência de ontem um ato da “turma do PT” é de uma desonestidade tremenda e com intenção claramente partidária.
O Jornal Nacional correu para entrevistar Alckmin para lhe conceder um belo espaço no horário nobre para falar mal do PT e do governo Lula. A Globo, que adora chamar de “criminosos” os pobres que brigam por seus direitos, não se utiliza do mesmo vigor para falar da quadrilha de contrabando chamada Daslú. Aliás, ontem era uma ótima oportunidade para perguntar ao Geraldo Alckmin, o que ele pensa sobre o fato de sua filha ser gerente de uma organização criminosa que tem como especialidade o crime de contrabando internacional.
Arnaldo Jabor, o ex-cineasta frustrado da pornochanchada e atual palpiteiro político de botequim, também mostrou toda sua desonestidade intelectual ao jogar toda a culpa no presidente Lula. Engraçado é que ele não demonstra a mesma fúria ao falar do estranho relacionamento da Daslú com a filha de Alckmin que se reuniu diversas vezes com o Secretário da Fazenda de São Paulo para tratar assuntos relacionados à quadrilha de contrabando. Tudo isso depois de ter alcançado um cargo de gerência de forma meteórica e suspeitíssima. Além de ser um crime grave, o contrabando da Daslú é tão violento quanto às ações de ontem do MLST, pois sonegava-se um bom dinheiro que poderia ser revertido para a segurança pública, por exemplo, ao invés de repassar desconto para as dasluzetes ou aumentar o lucro da quadrilha. A Daslú nunca foi tratada com tamanha histeria no Jornal Nacional.
Foi um erro estratégico do MLST que deu de bandeja um bom motivo para a falação dos hipócritas e a conseqüente intensificação da criminalização dos movimentos sociais. Porém, tudo isso também serviu como uma prévia de qual papel a imprensa irá assumir durante a campanha eleitoral.
Ao compararmos a cobertura midiática nos casos PCC e MLST, fica notória a maciça campanha anti-Lula que está em voga. Nos dois casos, o PT e o governo federal não tiveram culpa alguma, mas a imprensa deu um jeitinho de responsabilizá-los. Com a aproximação das eleições em outrubro, a tendência é se intensificar os ataques contra o presidente e o partido. A lógica é: “Se não conseguirmos evitar a provável reeleição do presidente, pelo menos vamos tentar impedir a eleição de muitos deputados e senadores petistas e assim dificultar um segundo mandato mais à esquerda.”
Cabe a militância se conscientizar de que nada está ganho e que a luta será mais dura do que nunca. 2006 está com cheiro de 89. Vamos abrir os olhos e prestar atenção no alerta dado pelo companheiro Lula: "Nós vamos ter um enfrentamento grave. Vocês se preparem"
João
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