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segunda-feira, maio 08, 2006

"A Veja abriu mão de ser uma revista. É um planfeto"

Em entrevista para o Portal Imprensa, o cientista político e professor da PUC-SP, Francisco Fonseca, autor do livro "O Consenso Forjado - A grande imprensa e a formação da agenda ultraliberal no Brasil", explica porque a esquerda brasileira está mais presente nas bancas do que a direita, em revistas como Fórum, Caros Amigos e Carta Capital.

Confira:
Quais revistas brasileiras se enquadram no campo ideológico da esquerda?
Fonseca - Os conceitos "direita" e "esquerda" sofreram transformações de uns anos para cá, o que não significa que não existam mais. O fato de defender a privatização e a eficácia não implica necessariamente uma posição de direita. É preciso relativizar esses conceitos.A idéia filosófica da direita continua sendo a de ordem e a da esquerda, liberdade e igualdade. Só que hoje, a direita neoliberal enfatiza ainda mais a ordem vigente e a esquerda perdeu parte de suas bandeiras. Vejo que a direita vem se fortalecendo e, hoje em dia, ergue mais bandeiras do que a esquerda.

Quando Veja e Estadão retratam o MST, o que mostram?
Fonseca -Baderneiros, loucos, assassinos. A Veja abriu mão de ser uma revista. É um panfleto político-ideológico. Época e IstoÉ não são como a Veja, mas também fazem parte de um discurso pela ordem que atinge toda a grande imprensa. Mas veja bem, pregar a ordem não é necessariamente ser neoliberal. É uma questão complicada, cheia de nuances. Do outro lado estão a Carta Capital, a Caros Amigos, que não são partidárias, mas estão mais à esquerda.

O jornalismo partidário não tem a mesma força que tinha nos anos 60. Por quê?
Fonseca - A vida partidária no Brasil é marcada pela descontinuidade. Fora a Tribuna da Imprensa e o Última Hora, não vejo uma força muito grande neste sentido. Hoje, PSDB, PFL e PP não precisam produzir publicações partidárias, porque têm o seu discurso muito bem representado na grande imprensa. As publicações de esquerda têm uma tradição maior na produção de boletins e geralmente enfrentam muitos problemas de financiamento. O Brasil de Fato e a Caros Amigos, como disse, não podem ser considerados partidários, mas tangenciam com as idéias do PT.

É lícito o governo alimentar com anúncios uma publicação que o apóia, como vem acontecendo com a Caros Amigos?
Fonseca - Não acho que a Caros Amigos defenda o governo Lula. Ela é uma revista crítica. O que há é uma identificação maior com o governo. A crítica da Veja quanto aos anúncios da Petrobras é oportunista. A revista não ouve os outros lados, desvirtua as informações. Toda a imprensa, como um todo, tem inúmeros benefícios com anúncios do governo. Se a Veja publicar anúncios da Petrobras não tem problema, mas se a Caros Amigos publica tem?

E quanto o caso da Nossa Caixa favorecer publicações ligadas ao governo Alckmin, como a Pirmeira Leitura?
Fonseca - É a mesma situação. Não vejo porque não possa acontecer. O que falta é pensar os critérios publicitários. Falta debate. Por exemplo, é certo o governo investir em anúncios nas revistas que vendem mais? Como diferenciar anúncios comerciais e de campanhas e projetos sociais? Deveria haver um mecanismo de controle, talvez até pelo Tribunal de Contas.

Quanto é razoável investir em propaganda? Como você avalia a posição destes veículos na crise política?
Fonseca - A crise foi tratada de maneira muito distinta da do governo FHC. Antes nós mal ouvíamos falar nas CPIs das privatizações e agora fizeram muito mais barulho. A imprensa cobriu bem a crise, jornalisticamente falando, mas foi muito moralista.

A íntegra desta entrevista pode ser lida na edição impressa da revista Imprensa.

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