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sexta-feira, outubro 27, 2006

Uma tarde para não esquecer

por José Dirceu

Na tarde de quarta-feira, 25, em Brasília, Lula fechou a semana que antecede as eleições presidenciais com um discurso memorável, num evento encharcado de simbolismo de um projeto de futuro que vai às urnas neste domingo.

O presidente abriu o Palácio da Alvorada e falou de improviso aos catadores de papel e de latinhas do Brasil. O evento marcou o anúncio de uma linha de crédito, a fundo perdido, criada pelo BNDES para equipar cooperativas de catadores e permitir treinamento de brasileiros e brasileiras que vivem pelas ruas das nossas cidades, lutando pela sobreviência com a coleta de papelão, latinhas e garrafas.

O Brasil é líder mundial na reciclagem de latas de alumínio, com reaproveitamento de 96,2% do total consumido pelo mercado. Essa posição no ranking, todavia, carrega uma incômoda ambiguidade. Por trás dessa liderança, existem entre 300 mil a um milhão de cidadãos miseráveis que tentam se integrar à sociedade recolhendo material reciclável pelas ruas do país. É o povo da rua. Brasileiros e brasileiras que, em muitos casos, sequer têm um teto para morar. Dormem embaixo da ponte. Repartem a a noite com os ratos, como disse Lula.

O presidente, desde o primeiro ano de seu mandato, passa o dia de Natal com o povo da rua, símbolo extremo desigualdade social para a qual o mercado não tem respostas e diante da qual os conservadores não têm nada a dizer , tampouco algo a propor --exceto o apartheid e carrros blindados. Na quarta-feira, foi diferente. em vez de Lula visitá-los nas ruas, os catadores de papel e latinha foram ao Palácio. Discursaram. Saudaram o presidente e conheceram o Alvorada.
Lula fez, então, um discurso memorável para recepcionar visitantes. Lembrou que quando visitou Mandela, na África do Sul, chegou às 8 horas da manhã no Palácio de Governo. E já encontrou enorme quantidade de mulheres e homens andando pelo prédio. Olhavam tudo, cada detalhe, inclusive as paredes. Mas sem tocar em nada. Lula contou que perguntou ao presidente porque aquele povo olhava com tanta admiração o palácio. E o presidente Mandela disse: "Lula, essa gente, durante décadas, não podia nem passar aqui em frente. Um negro passar na frente do Palácio do Governo da África do Sul, até então governado pelos brancos, era quase um atentado aos bons costumes estabelecidos naquela época na África do Sul. Então, as pessoas queriam ver, queriam olhar, não queriam nem tocar, só queriam ver".

Lula ressaltou então a semelhança entre os dois eventos: “(...) O que nós estamos presenciando aqui hoje, mais que um ato de assinatura de decreto e de assinatura de convênios, é um ato de cidadania. (...) Hoje, quando ouvi o discurso dos dois companheiros - me permitam chamá-los de companheiros também e não de Excelência - eu fiquei pensando quantas pessoas já passaram por este palácio. Certamente, na história política do nosso país, já passaram muitos empresários, muitos banqueiros, muitos governantes de vários países do mundo. (...) Mas a democracia brasileira e a conquista da cidadania brasileira não seriam completas se, por aqui, não passassem outras personalidades que compõem e que, muitas vezes, têm trabalho até mais importante que muitos dos que já passaram por aqui, mas que como essa profissão não está catalogada nos anais de quem faz a anotação das profissões chiques, essas pessoas nunca foram lembradas para entrar no Palácio de Governo, nem aqui, nem em muitos países do mundo.

Um gesto como este possivelmente não seja medido agora, leva tempo para que a sociedade mature e compreenda o significado, às vezes, até maior do que a conquista. Em que momento da história um catador de papel pôde usar a tribuna num palácio governamental? Em que momento da história um morador de rua pôde utilizar a palavra no Palácio presidencial ? Por isso que o Brasil, aos poucos, vai sedimentando práticas e exemplos que podem ajudar na conquista da democracia no mundo."

1 Comments:

At 27/10/06 22:06, Anonymous Anônimo said...

Se o Lula fosse mesmo um estadista de respeito, ao invés de dar essas migalhas para os pobres, daria sim dignidade. No lugar da bolsa-mamãe, abriria frentes de trabalho com sálarios de verdade; resolveria os escandalosos problemas do SUS (morre muita gente); as estradas então nem se fala. Mas e o dinheiro para isso?
Fácil: R$9.000.000.000,00 de bandeja para a PETRUS; R$ para o metro de Caracas; hidroelétrica para os Haitianos; R$ para os africanos.
Grande estadista. Oh!

 

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