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sexta-feira, julho 07, 2006

Santo de bordel

por Eduardo Guimarães

O que mais se contesta hoje na imprensa brasileira é que ela age com partidarismo político em benefício principalmente do mais importante partido de oposição ao governo Lula, o PSDB. Certa vez, conversando com o ombudsman da Folha, Marcelo Beraba, por telefone sobre uma de minhas queixas ao partidarismo do jornal, sem argumento para rebater minha queixa ele me propôs que imaginasse o que seria se um jornal como O Globo tivesse ombudsman. Respondi-lhe que essa pessoa não conseguiria manter o emprego, e ele concordou...

A finalidade deste texto, então, é analisar o que considero hoje o pior emprego de jornalista deste país, o de ombudsman da Folha. E por isso quero até fazer uma homenagem ao jornalista marcelo Beraba, um profissional que vem ganhando meu respeito dia após dia desde que assumiu a tarefa espinhosa de criticar um veículo que vem abandonando, um a um, todos os princípios éticos e jornalísticos que o alçaram à condição de maior jornal do país. A degradação da Folha, ao aproximar-se das práticas político-partidárias de uma Veja, de um Estadão ou até de um temido (por Beraba) O Globo, tem levado o ombudsman da Folha, algumas vezes, a uma indignação que às vezes parece que vai explodir. Leiam a crítica interna que ele publica de segunda a sexta-feira na internet, em sua edição de 4 de julho último, e que versou sobre a falta de pluralidade do jornal, preceito que a Folha inseriu em seu Manual de Redação e que diz que integra seu Projeto Editorial:

"Cotas
É um absurdo o tratamento dado hoje pela Folha à discussão sobre os projetos que instituem a Lei de Cotas e o Estatuto da Igualdade Racial.


1 - A Folha publicou, na quinta-feira passada, a íntegra do manifesto "Todos têm direitos iguais na República", contrário aos dois projetos de lei. Ontem, foi divulgado o "Manifesto em favor da Lei de Cotas e do Estatuto da Igualdade Racial", também assinado por intelectuais e artistas.Por que não foi publicada a íntegra do novo manifesto? E o pluralismo? Não foi garantido o mesmo tratamento para as duas posições.

2 - O infográfico publicado na página C4 que ilustra o texto "Intelectuais fazem manifesto pró-cotas" é um equívoco, porque destaca os signatários (celebridades) e não os principais trechos dos manifestos (conteúdo, idéias, argumentos).

3 - Não há na página um resumo da Lei de Cotas e do Estatuto. Como o leitor pode entender a discussão e se posicionar?

4 - O assunto merecia uma chamada na Primeira Página, embora não com o enfoque equivocado da reportagem publicada em "Cotidiano".Conclusão: o leitor da Folha está mal informado sobre um assunto difícil, que divide a sociedade e que deverá ser definido em breve no Congresso.

O mínimo que o jornal pode fazer agora é publicar a íntegra do novo manifesto para que seus leitores possam se informar e tomar posição"

Diante de uma crítica como essa feita por um profissional que a Folha investiu da responsabilidade de criticá-la colocando, nessas críticas, o peso de sua reputação, fico mortificado ao ver a resposta que Marcelo Beraba obteve do jornal. Não há dinheiro que pague o prejuízo de imagem que alguém pode ter ao ser desautorizado como a Folha desautorizou seu ombudsman ao não dar a menor bola à crítica que ele fez e nem ao menos ter-lhe dado uma explicação como costuma fazer em outras questões. A Folha não só não deu bola à crítica de seu ombudsman como também parece que decidiu zombar dele. No dia seguinte (5/5) ao da crítica interna que reproduzi acima a Folha não só não publicou o manifesto em favor das cotas como aumentou a falta de pluralidade publicando um editorial que insinuou que não seria preciso dar espaço ao ponto de vista de quem apóia as cotas, porque esse ponto de vista seria tal e tal, e citou a opinião divergente como quis. No terceiro dia, além de praticamente só publicar cartas de leitores contra as cotas em sua edição eletrônica, a Folha publicou sobre o assunto em sua versão impressa apenas um artigo de Demétrio Magnoli, naturalmente no espaço nobre (pág. A2) e contrário às cotas étnicas nas universidades.

Foi um jornalista que certa vez me ofereceu uma metáfora excelente sobre o papel do ombudsman Marcelo Beraba na Folha de São Paulo. Ele seria como aquelas imagens de santos (que representam valores como a castidade) que são exibidas ostensivamente em prostíbulos.

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