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domingo, maio 28, 2006

"Burguesia Branca"

por Soninha

É impressionante o efeito que podem ter algumas palavras certas na hora certa.

O governador Cláudio Lembo disse o que milhares já disseram, profeticamente (sem nenhum mérito mediúnico, pois eram vaticínios óbvios), em outras ocasiões: que um dia esse negócio todo ia dar merda. A tal da "exclusão social", com todos os seus ingredientes. Muita gente provavelmente nem leu o que ele disse, mas bastou a expressão “burguesia branca” para identificar em seu discurso motivo de aplauso.

Pois bem: nesta ocasião como em várias outras, concordo com muitas coisas ditas por ele. Mas... E a prática?

Cláudio Lembo é do PFL, partido cujos fundadores fizeram parte da assassina ditadura militar. Não, ele não esquece, não nega nem se orgulha disso, como deu a entender recentemente em discurso feito em homenagem ao seu Otávio Frias, publisher do Grupo Folha. Finda a ditadura, boa parte de suas figuras mais eminentes mantém, nos governos ou na oposição, práticas que em nada contribuem para a democracia, o desenvolvimento social, etc. – para fazer um comentário brando. Ou seja, o partido do governador também não merece uma parte (ou boa dose) de críticas pela situação que vivemos hoje no Brasil e em São Paulo, como resultado dos danos acumulados há décadas?

Lembo reclama do PSDB (eu também!), o mundo todo reclama do PT (e eu também), mas cadê o pefelê?

Outra coisa: Cláudio Lembo quis ser governador – ou não teria sido vice... Ele fez parte do governo Alckmin; ele É a continuação do governo Alckmin. Não ganhou o Palácio dos Bandeirantes em uma rifa, depois de longa ausência do país. Estava aqui, vendo isso tudo que vemos, sabendo mais do que sabemos sobre o próprio governo do estado (usualmente pouco criticado e debatido na mídia). Devia ter acordado antes para o que estava sendo “construído” com a combinação de “ausência do Estado das áreas carentes” (uso a frase feita para simplificar – todo mundo sabe do que estou falando) + incompetência + corrupção. E agora quer “solidariedade”, como se tivesse caído um meteoro no seu quintal por puro azar. O que aconteceu aqui foi um problema sério, grave, complexo, para o qual ninguém no mundo tem respostas fáceis e imediatas, mas foi gestado na vigência da administração que ele sempre integrou.

Mas suas palavras caíram tão bem que atá a Carta Capital lhe dedicou a última página – a dos “Retratos Capitais”, com a legenda: "O governador fez um diagnóstico preciso dos males do Brasil". Ops... Como se ele não fosse, agora, o governante encarregado da Polícia Militar, que saiu a executar suspeitos (os de sempre – os pretos e pardos e pobres da periferia...). Talvez com os aplausos da burguesia branca. Lembo é o chefe do Secretário de Segurança, o truculento e incompetente Saulo de Abreu (pergunte a alguns tucanos...). Mas falou bonito em duas entrevistas, e parece que é isso que conta.

(É óbvio que quando digo "Polícia Militar" não me refiro a todos os membros da corporação, mas a práticas tristemente comuns de uma parte considerável deles, com anuência de alguns de seus chefes).

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1 Comments:

At 11/6/06 22:04, Anonymous Anônimo said...

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