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segunda-feira, abril 17, 2006

O Brasil de FHC não é o Brasil dos brasileiros



por Chico Vigilante

Ser brasileiro não é o exercício de sentir a brisa da Avenida Atlântica nos cabelos grisalhos, tomando café, com as pernas da calça de fios europeus cruzadas, citando Sartre e falando do Brasil por hobby. Ser brasileiro é ter o suor escorrendo no rosto, é saber a delícia e a dor de uma vida feita de lutas.

No dia 5 de abril, quem assistiu ao Programa do Jô, Na Rede Globo, pôde conferir, na íntegra, o que é o avesso de um brasileiro. Na poltrona do apresentador do talk-show, um “tipo fino”, à moda parisiense, desenrolava um blábláblá academicista, típico de quem quer, a qualquer custo, ser chamado de intelectual. Uma grife, uma imagem, uma criação desconexa da realidade, assim se comportou o ex-presidente da República, Fernando Henrique Cardoso, em cadeia nacional. No alto de seu deslumbramento intelectual, FHC afirmou que o “pobre” quando chega “lá em cima” corre o risco de virar “outra coisa”, ou seja, deslumbrar-se com a mudança social conseguida pelo poder. Mais uma gafe social à lista de quem já chamou brasileiros de vagabundos e de neobobos.

É inadmissível que um ex-presidente da República profira tal comentário num país que há cinco séculos conhece muito bem a pobreza, encravada em sua raiz social desde o processo de descobrimento e de colonização. Devo a minha vida aos calos das mãos da minha mãe, que conseguiu criar oito filhos quebrando cocos. Pobre, negro, maranhense e filho de uma quebradeira de coco. Uma imagem bem diferente daquela tentativa de “lorde inglês” que interpretou, durante oito anos, durante sua farsa de governar um país que desconhece até hoje. Um Presidente da República que, em entrevista, confessou que sentiria muita falta de suas braçadas na piscina do Palácio da Alvorada.

Depois de muito esforço, lutas e conquistas, os pés desse negro, pobre e filho de quebradeira de coco pisaram durante oito anos nos tapetes verdes da Câmara Federal como parlamentar e não mudou seus princípios éticos e morais. Chico Vigilante não é deslumbrado com a essência e as conseqüências do poder. O deputado Chico Vigilante é o mesmo brasileiro que trabalhou como servente de pedreiro nos rincões deste país, caindo de malária e, ao mesmo tempo, fortalecendo-se de esperança.

Em seu falatório, o tucano se referiu aos petistas como um pessoal que muda de automóvel, de roupa, de mulher, de emprego e vira outra pessoa. Infelizmente, FHC nunca poderá dizer em suas pseudo-palestras internacionais o que é a alegria de se dedicar 26 anos a um partido que nasceu dos trabalhadores. Metade da minha vida eu dediquei ao PT e tenho todo o orgulho desse partido e de companheiros, que junto comigo, caminharam e caminham rumo ao nosso ideal. O ideal de dia após dia lutar pela igualdade social.

Ao contrário do anti-perfil de brasileiro traduzido em FHC, vivo como brasileiro. Moro em Ceilânida, a mesma cidade onde dividi um quartinho com outros três colegas quando conheci Brasília pela primeira vez, na década de 1970. Como tantos outros trabalhadores brasileiros, saio de casa nos primeiros sinais de sol e só volto quando a lua está dependurada nos céus. E assim também é a rotina do Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, foco do ataque elitista de FHC.

Esse maranhense, que conheceu a dor da fome e o medo de não ter amanhã, é o mesmo brasileiro que já conversou com presidentes da República, governadores, ministros, prefeitos, deputados, senadores. Ao longo desses anos todos, conheci realidades divergentes, mas nunca deixei de ser o que sempre fui. Quando penso nesse Brasil, sinto impregnado em meu corpo os versos de brasileiros que também são Buarques e de Moraes: “Tem certos dias/ em que eu penso/ em minha gente/ e sinto assim/ todo o meu peito se apertar/ porque parece que acontece/ de repente/ um desejo de viver/ sem me notar”. Em algum dia, FHC pensou nessa Gente Humilde chamada Brasil?

Definitivamente, FHC não atingiu somente Lula e os petistas, mas todos nós. O Brasil de FHC não é o Brasil de mais de 180 milhões de brasileiros.

Chico Vigilante é presidente do PT-DF e deputado distrital.

http://www.pt.org.br/site/artigos/artigos_int.asp?cod=1056

Essa entrevista do FHC ao Jô Soares foi uma das coisas mais nojentas e repugnantes que eu já presenciei na televisão brasileira. A dupla foi capaz de deixar João Cleber e Gugu vermelhos de vergonha. Jô Soares se prestou a bajular o ex-presidente, enquanto que o tucano-mór se prestou a detonar os pobres, o Partido dos Trabalhadores e o presidente Lula. Além desses absurdos proferidos, FHC, ciceroneado pelo gordinho babão, deixou seu lado tucano e assumiu o lado pavão. Não se cansava de descrever as viagens internacionais, os palácios que conheceu, sua amizade com Clinton, sua admiração pela Condolezza Rice e muitos outros casos que serviram para massagear seu ego inflado em rede nacional. Com aquela empáfia acadêmica, FHC se julga acima do bem e do mal. Nunca vai admitir que um ex-operariozinho do Nordeste faz um governo infinitamente melhor que o Príncipe dos Sociólogos formado na USP.
João