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terça-feira, fevereiro 21, 2006

PT, parabéns pelos 26 anos

Artigo de Eduardo Suplicy

Avalio ser importante, em que pesem erros que possam ter sido cometidos, prosseguir com os ideais que nos levaram a criar o Partido dos Trabalhadores.
Artigo originalmente publicado no Jornal do Brasil em 12/06/2006
O dia, 10 de fevereiro. O ano, 1980. O fato, a fundação do Partido dos Trabalhadores. Um partido que já nasceu com história, a da redemocratização do Brasil, e surgiu da luta e da necessidade dos trabalhadores terem pleno direito à cidadania. O PT veio dos que se levantaram contra o autoritarismo, as arbitrariedades, a ausência de leis e o estado de exceção. O seu espírito democrático está entre nós até hoje, e desde o primeiro momento, em nome de todos os brasileiros, o PT abraçou a bandeira dos direitos humanos, fundamental para a vida civilizada em sociedade.

O partido também nasceu de amplos setores populares que saíram às ruas defendendo o direito a uma vida mais digna. Refiro-me ao corajoso Movimento contra a Carestia, ou Movimento do Custo de Vida, nos anos 70. Começava aí a se ouvir a voz de quem não tinha vez. O PT reuniu essas vozes e, assim, colaborou para que o povo brasileiro tivesse a certeza que a nação era de todos nós.

Tive afinidade com o PT desde o início. Era professor na escola de Administração de Empresas de São Paulo, da FGV, e redator de Economia na Folha de S. Paulo e, em 1976, fiz uma palestra para os estudantes de Economia da Fundação Santo André. Oswaldo Cavignato, um dos alunos, era amigo e assessor do então presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo e Diadema, o Lula, e o levou para assistir à minha palestra. Quando abri espaço para perguntas, Lula fez uma observação e provocou uma reação em um dos professores da escola, que disse: ''O que dirá o diretor da faculdade quando souber que está aqui um perigoso líder sindical?'' Lula sentiu-se constrangido e saiu da sala.

No final da conferência, Lula e Cavignato me esperavam com Devanir Ribeiro e outro companheiro. Convidaram-me para ir ao sindicato. Nasceu aí uma longa amizade e uma grande trajetória. Aquele retirante nordestino, que carregava consigo o sonho de milhares de trabalhadores por dignidade e melhores condições de vida, passou a coordenar as ações para a criação do Partido dos Trabalhadores. Hoje é o presidente da República.

Em agosto de 1978, quando me candidatei pelo MDB a deputado estadual, travei com Lula um diálogo em frente à Livraria Brasiliense, no calçadão da rua Barão de Itapetininga, no centro de São Paulo. Isso aconteceu por sugestão de meu amigo Caio Graco Prado. Lula e eu nos aproximamos ainda mais.

Segundo Osvaldo Bargas, hoje secretário de Relações do Trabalho do Ministério do Trabalho, foi nesse diálogo que Lula formulou publicamente, pela primeira vez, o pensamento de criação do Partido dos Trabalhadores. Tamanha foi a minha interação com os metalúrgicos do ABC, os bancários, os professores e os movimentos sociais que, juntamente com os deputados Geraldo Siqueira, Irma Passoni, Marco Aurélio Ribeiro e João Baptista Breda, assinei, em 10 de fevereiro de 1980, a ficha de fundação do PT.

Lembro-me bem daquela tarde ensolarada de sábado, nos jardins do Colégio Sion na avenida Higienópolis. Como esquecer da satisfação de Mário Pedrosa assinando a ficha nº 1, da emoção de Paulo Freire, da alegria de Apolônio de Carvalho, das lágrimas de Perseu, Zilá e Lélia Abramo? E dos que vinham de movimentos como o da anistia aos exilados e presos políticos, com Luiz Eduardo Greenhalgh e tantos outros, que nos lembravam do que foi, na ditadura, a batalha na clandestinidade daqueles que ali já podiam mostrar seu rosto? Lembro de tantos jovens, como Alípio Freire e Julinho de Grammont, que se abraçavam e distribuíam a todos os primeiros broches com a estrela, que se tornou símbolo do partido que ajudaram a criar. Lembro do líder camponês Manoel da Conceição, junto com o jornalista David de Moraes e o líder dos coureiros Paulo Skromov. Não posso esquecer de Freitas Diniz, do Maranhão; Antonio Carlos, do Mato Grosso; Benedito Marcílio e Airton Soares, que formaram nossa primeira bancada de deputados federais. Lembro que alguém abriu a primeira bandeira vermelha com a estrela branca.

Lembro também dos vários programas introduzidos pelo PT em suas administrações, como o Orçamento Participativo, o Saúde da Família, o de Garantia de Renda Mínima, o Bolsa Escola e agora o Bolsa Família, além de muitos outros nas áreas da educação, saúde e urbanismo, que representaram e representam o fortalecimento de nossos ideais. E também das concentrações do Movimento pelas Diretas-Já, o maior já realizado no país, em 1984, e do Movimento por Ética na Política, em 1992.

Ao cumprimentar o Partido dos Trabalhadores por seus 26 anos, quero dizer aos nossos militantes e a todos os brasileiros que os recentes acontecimentos envolvendo alguns integrantes do partido não podem ser generalizados como se fossem de todo o PT. Somos 800 mil filiados.
E gostaria de transmitir a pessoas como a senadora Heloísa Helena - que acabou sendo expulsa, contra o meu voto -, o amigo Plínio de Arruda Sampaio, o companheiro de Senado Cristovam Buarque e outros que resolveram deixar o PT, que avalio ser importante, em que pesem erros que possam ter sido cometidos, prosseguir no partido, corrigir as faltas, superá-las e prosseguir com os ideais que nos levaram a criar o Partido dos Trabalhadores.

http://www.informante.net/resources.php?catID=2&pergunta=323#323

É uma pena que muitos companheiros abandonaram o barco no momento mais difícil da história do PT. Não compreenderam as inevitáveis contradições pelas quais o partido se defrontaria ao assumir o governo. Isso é política, não é conto de fadas. O PT situação é naturalmente diferente do PT oposição. Esses são os verdadeiros traidores da luta, pois ajudaram a enfraquecer e a fragmentar a esquerda. Cometeram um grave erro político e agora engrossam as fileiras do oposição ao lado de tucanos e pefelistas.
Suplicy pode ter vários defeitos, mas continuou firme na luta. Isso ninguém pode negar.
João

2 Comments:

At 21/2/06 21:33, Blogger Nelson R.Perez said...

Salve!
Agradeceria a indicação.

Bué de Bocas./ PT...saudações.

 
At 22/2/06 22:39, Anonymous Anônimo said...

Em 1979, salvo engano, os bancários sindicalistas, ligados ao jornal VERSUS, já discutia a formação de um partido. Seu nome seria Partido Socialista dos Trabalhadores (se estiver enganado, corrijam-me). Mas, já havia um burburinho sôbre a movimentação do pessoal do ABC. Quando surgiu a notícia da criação do PT, a turma da Convergência Socialista, MEP, e outros começou a colher filiações para registrar o PT. Tenho muito orgulho de ter contribuído para isso. Foi uma contribuição muito pequena mas, minha ficha foi assinada imediatamente junto a companheiros da CS. Desde então, já morei em vários estados brasileiros e carreguei comigo e ainda carrego com muito orgulho a estrêla do PT.
Ousar lutar, ousar vencer.

 

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